domingo, 20 de setembro de 2009

República Riograndense

No ano de 1835, a Província de São Pedro do Rio Grande, atual Rio Grande do Sul, tinha como principais produtos o charque e o couro. O charque era destinado principalmente para a alimentação dos escravos que trabalhavam nas plantações de cana-de-açúcar, café e a mineração no sudeste.

Devido à supervalorização econômica do charque gaúcho e à facilidade que Minas e São Paulo encontraram para importar o charque a um custo menor do Uruguai e Argentina, os estancieiros do Rio Grande exigiram uma tributação aos produtos importados que possibilitasse uma concorrência mais justa com o charque gaúcho. Como a economia e o poder no Brasil se concentrava (e ainda se concentra) no sudeste do país, os grandes produtores daquela região pressionaram o Império a não atender aos anseios riograndenses, pois sabiam que iriam ocorrer uma acentuada queda em seus lucros, devido ao elevado custo de manutenção dos escravos.

Além disso, episódios anteriores, como a instalação de uma filial da Sociedade Militar no ano de 1833, para se opor aos ideais separatistas republicanos que emanavam da elite gaúcha, também contribuíram para o descontentamento dos gaúchos.

Em 18 de setembro de 1835, ocorre uma reunião entre José Mariano de Mattos, (um ferrenho separatista), Gomes Jardim (primo de Bento Gonçalves e futuro Presidente da República Riograndense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Souza Neto (imperialista e farroupilha, mas que simpatizava com as idéias republicanas) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de dois dias, no dia 20 de setembro de 1835, tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o presidente provincial Fernandes Braga .

Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de 1835, chegam às portas da cidade Bento Gonçalves da Silva e os demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários.


Em 10 de outubro de 1836, ocorreu a Batalha do Seival. Com a fulminante vitória dos revoltosos, liderados por Antônio de Souza Neto. No dia seguinte, em 11 de setembro, o general Souza Neto proclamou a República Riograndense.

Em 4 de outubro de 1836, Bento Gonçalves é enganado por Bento Manoel e, após uma negociação em que concordaria em selar a paz, é preso juntamente com suas tropas. O episódio fica conhecido como a Traição do Fanfa, que ocorreu às margens do Rio Jacuí, na ilha de Fanfa (município de Triunfo). Bento foi mandado para o Rio de Janeiro.

Em março de 1837, após se desentender com Antero de Brito, Bento Manoel muda de lado novamente e é acolhido pelas tropas gaúchas, vindo a combater os imperiais.

Em 15 de março, após uma tentativa de fuga da prisão no Rio de Janeiro, Bento Gonçalves foi transferido para o Forte do Mar. Contando com o apoio de irmãos maçons e provavelmente com a, fugiu a nado do forte. Permaneceu clandestino por um tempo na Bahia e fugiu até Buenos Aires, de onde volta em 17 de novembro de 1837 ao Rio Grande do Sul, assumindo imediatamente a presidência da República Riograndense.

A queda de Laguna (Santa Catarina) marcou o início da derrocada da República Riograndense.

A República Riograndense não ficou isenta das disputas pelo poder. Começaram a aparecer em suas fileiras pessoas inteligentes e capazes, dispostas a rachar a necessária unidade nacional naquele momento em que a nação gaúcha precisa de todas as suas forças para combater um inimigo reconhecidamente superior em número e riqueza.

Bento Gonçalves renuncia, por conta da campanha de intrigas, à Presidência da República Riograndense a 4 de agosto de 1843, assumindo seu vice Gomes Jardim. Lança um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incita a nação a se unir em torno do novo Presidente. Passa em seguida a comandar uma divisão do Exército Riograndense.

O sistema de guerrilha e a troca constante de presidentes e comandantes de armas prolongaram a luta até que o Barão de Caxias (futuro Duque) foi nomeado Presidente da Província e Comandante Supremo Imperial em 9 de novembro de 1842, reorganizando o exército e chamando para seu Estado Maior a Bento Manuel Ribeiro, que tinha se recolhido para o Uruguai. O barão empregava toda sua força de 12.000 homens, conhecimento inteligência e experiência para minar a relativa supremacia farrapa no interior, que contava com apenas 3500 homens. Entre as várias ações, iniciou uma campanha de estrangulamento da economia da República, atacando as cidades da fronteira que permitiam o escoamento da produção de charque para Montevidéo e Laguna; comprando cavalos para impedir que os Farrapos tivessem montaria; reativando o comércio.

Por fim, a 1º de março de 1845, assinou-se a paz: o Tratado de Poncho Verde ou Paz do Poncho Verde, após quase dez anos de guerra que teria causado 47829 mortes. Entre suas principais condições estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas. O cumprimento parcial ou integral do tratado até hoje suscita discussões. A impossibilidade de uma abolição da escravatura regionalmente restrita, a persistência de animosidade entre lideranças locais e outros fatores administrativos e operacionais podem ter ao menos dificultado, senão impedido o cumprimento integral do mesmo.

Dos escravos sobreviventes, alguns acompanharam o exército do general Antônio Neto em seu exílio no Uruguai, outros foram incorporados ao Exército Imperial e muitos foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro.

A atuação de Luís Alves de Lima e Silva foi tão nobre e correta para com os oponentes que a Província, novamente unificada, o indicou para senador. O Império, reconhecido, outorgou ao general o título nobiliárquico de Conde de Caxias (1485). Mais tarde, (1850), com a iminência da Guerra contra Rosas seria indicado presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.

A Guerra dos Farrapos foi uma revolta da elite gaúcha contra o Império. A constituição da República Riograndense previa o voto censitário e, em várias partes, retroagia em relação à constituição vigente naquela época no Brasil. Farrapos eram os escravos que lutavam com a promessa de liberdade. Farrapos eram os peões e escravos forros que lutavam para atender aos interesses dos patrões.

Não, não quero desmerecer a idéia de liberdade e de garra do povo gaúcho, pois eles eram e são reais. A verdade é que no Rio Grande paira um espírito de amor à terra, orgulho de ser gaúcho e de ter sido a única província capaz de enfrentar o Império.

Caxias não negociou com Bento Gonçalves só por serem maçons. Caxias sabia que se acabasse com as tropas gaúchas e prendesse os revoltosos, estaria perdendo um dos melhores e mais leais soldados do Brasil: o soldado gaúcho, que seria de suma importância mais tarde, no conflito com o Paraguai.

Ser gaúcho é ter orgulho do seu chão e das suas origens! Ser gaúcho é saber honrar os esforços do passado e prosseguir lutando por aquilo em que se acredita!

Um comentário:

  1. Bah, às vezes falamos tanto em uma data e não sabemos quase nada sobre ela. Muito legal!

    Joaquim

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